Peço sua atenção por poucos minutos. Vou procurar não cansá-los, pois em nossa reclusão já dedicamos um tempo maior à leitura.
Vou falar sobre o que está por trás daquela porta fechada que você vê na rua quando sai de sua casa.
Principalmente das lojas pequenas de uma ou duas portas, pois quase todas estão fechadas.
As micro e pequenas empresas são mais de 90% em nossa cidade.
Por trás delas há um comerciante amargurado, preocupado com a saúde de sua família, de seus amigos e de seus colaboradores, assim como você.
Angustiado também com os pagamentos que deixou sem fazer nestes 23 dias em que praticamente não teve faturamento algum.
Pensando no que fazer amanhã para pagar seus funcionários. Se não puder, dar um vale. Demitir é sua última opção.
Nas muitas crises que já passamos, ressurgimos quase sempre por teimosia. Mas quantos sucumbiram a elas?
Por impossibilidade, podemos adiar o pagamento de impostos, do banco, de fornecedores, até do aluguel, mas de nossos colaboradores não queremos.
Para muitos será a decisão mais doída que poderão tomar.
QUEM SOMOS
Neste momento somos um só, comerciantes e comerciários, empresários e seus empregados, como dizíamos no passado, hoje colaboradores, como dizemos muito mais propriamente.
Somos grandes ou pequenas empresas, supermercados, mercearias, padarias, bares e restaurantes e, também, lojas de calçados, de confecções e uma infinidade delas.
Estamos nas ruas, nos shoppings, nas galerias, no calçadão ou nos bairros, dos mais simples aos mais sofisticados.
Temos todos algo em comum: procurar atendê-lo, servi-lo e encantá-lo.
Todos os dias, tentamos recebê-lo com um sorriso, mesmo quando temos problemas pessoais.
Hoje não sabemos como estaremos amanhã.
QUANTOS SOMOS
Você vai se surpreender. Somos, em Bauru, 10.430* empresas comerciais com um ou mais sócios, que empregam 43.112* pessoas diretamente com carteira assinada. No total, ao menos 53.452 pessoas.
Vivemos hoje o mesmo drama, comerciantes e comerciários, pois dependemos do comércio para viver.
Somos mais de 160.000 bauruenses, nascidos aqui ou que para cá vieram, a depender de nossas lojas, a maioria delas fechadas.
Esperamos por um crédito prometido que não vem e demorará a chegar – se vier.
Nossa parcela mais vulnerável, os microempresários, está esquecida pelos nossos governantes.
QUEM SOU
Sou alguém que nasceu há 70 anos no comércio de seus pais. Fui moldado nele, no comércio para a minha vida. Alguém que já viveu muitas crises, mas nenhuma como essa, e continua vivendo o comércio até hoje.
Alguém que, desde o dia primeiro, dedica suas forças para informar, orientar estes empresários, lutar por eles.
Nada demais. Tenho que fazê-lo por presidir o Sincomércio neste difícil momento.
O QUE ESPERAMOS
Esperamos que nossos governantes não nos vejam apenas como lojas fechadas, que quando falamos sobre a reabertura gradual e responsável, respeitando todas as normas de segurança sanitária, não nos olhem como gananciosos em busca de mais dinheiro.
Queremos respeito, carinho até. Afinal, estamos todos carentes.
Somos 43% da nossa população, mais da metade dela se incluirmos o comércio informal.
De você bauruense, esperamos que não se esqueça daqueles que o recebem com carinho, quase sempre com um sorriso, comerciantes ou comerciários.
Mais dia ou menos dia, eles estarão de volta esperando por você, com as portas abertas e ainda com um sorriso, espero.
Um abraço, ainda que virtual, de um bauruense para outro, nascido aqui ou não.
Walace Garroux Sampaio
Presidente
Sincomércio Bauru e região
(*) Fonte dos números usados: Caged e IBGE
REPUBLICAÇÃO
O texto acima completou mais de um ano de sua primeira publicação sob o título de CARTA ABERTA AOS BAURUENSES.
Continua atual em seus conceitos.
Naquela época, completávamos 23 dias com o comércio fechado em Bauru e tínhamos a expectativa de que logo fosse reaberto.
Triste ilusão.
Passados pouco mais de um ano, já completamos 160 dias com o comércio totalmente fechado, sem nenhuma compensação ou apoio do governo estadual.
A outra diferença é que éramos então 10.430 empresas comerciais em Bauru. Hoje, ainda existem pouco mais de 8.000.
Na época, eu ainda era presidente do Sincomércio e tinha um ano a menos do que os 71 que tenho hoje.
Ainda não existia o Reage São Paulo.
Walace Garroux Sampaio
Diretor do Sincomércio Bauru e região e
Coordenador do Reage São Paulo